Uma aliança para condução de pesquisas, formada por Hospital Israelita Albert Einstein, HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet), avalia a eficácia e a segurança de potenciais terapias para pacientes com Covid-19. Denominada Coalizão Covid-19 Brasil, a iniciativa conduz nove estudos voltados a diferentes populações de pacientes infectados pelo novo Coronavírus.
O terceiro estudo, nomeado Coalizão III, avaliou se o anti-inflamatório dexametasona poderia trazer benefícios a pacientes adultos hospitalizados com formas graves de Covid-19. Os resultados foram publicados no periódico científico Journal of the American Medical Association (JAMA) nesta quarta-feira (2). O estudo contou com apoio da farmacêutica Aché, que forneceu os medicamentos, e foi aprovado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No mesmo momento da divulgação do estudo Coalizão III, foi divulgada também uma revisão de estudos, em formato de meta-análise, realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que compilou os resultados do Coalizão III e das demais pesquisas que utilizaram corticoides em Covid-19. Os resultados dessa meta-análise demonstraram que a istração de corticoides reduz a mortalidade em pacientes graves com Covid-19 e serviram de base para atualização das diretrizes da OMS sobre o tratamento de Covid-19 com corticoides, também divulgada nessa data.
O Coalizão III teve início no dia 17 de abril, com inclusão do último paciente em 23 de junho, e seguimento clínico finalizado em 21 de julho. Foram incluídos 299 pacientes com síndrome respiratória aguda grave submetidos a ventilação mecânica (respiração artificial) em 41 Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) brasileiras. Por meio de randomização (sorteio), os pacientes receberam dexametasona mais e clínico padrão (151 pacientes) ou apenas e clínico padrão (grupo controle, 148 pacientes). A dexametasona foi usada por via endovenosa na dose de 20 mg durante 5 dias e 10 mg durante 5 dias. O e clínico padrão foi de acordo com a equipe médica que assistia os pacientes. A avaliação do efeito do tratamento com dexametasona considerou como resultado principal o número de dias que o paciente permaneceu fora do respirador artificial em até 28 dias.
O QUE ACONTECEU COM OS PACIENTES INCLUÍDOS NO ESTUDO?
O número de dias fora do respirador artificial foi maior nos pacientes tratados com dexametasona (média de 6,6 dias) do que no grupo controle (média de 4 dias).
Interpretação: A utilização de dexametasona aumentou o número de dias em que pacientes graves com Covid-19 permaneceram fora do respirador artificial. A retirada mais precoce do respirador artificial pode se associar ao menor risco de complicações decorrentes da permanência na UTI, alta mais precoce da terapia intensiva com liberação de leitos e economia de recursos humanos e financeiros, mormente num cenário de escassez como o da atual pandemia.
EFEITOS ADVERSOS
No que diz respeito aos efeitos adversos, a pesquisa não evidenciou um risco maior do tratamento com dexametasona em relação a novas infecções, alterações da glicose e outros eventos adversos sérios.
ÓBITOS
O estudo não foi idealizado para avaliar diferenças de mortalidade entre os grupos. A mortalidade em 28 dias foi de 58% quando considerado o total de pacientes incluídos.
OBSERVAÇÕES
- Os pacientes incluídos no estudo tinham idade em torno de 61 anos.
- Cerca de 60% dos pacientes era do sexo masculino.
- Foram incluídos apenas pacientes com as formas mais graves de insuficiência respiratória aguda causada por Covid-19, todos entubados em respiração artificial e com reduções importantes da oxigenação do sangue.
- Vale destacar que estes resultados não são aplicáveis a outras populações, a exemplo de pacientes ambulatoriais com formas mais leves e iniciais de Covid-19, ou mesmo pacientes hospitalizados com Covid-19 que não estejam em respiração artificial.
Os outros estudos da Coalizão Covid-19 Brasil em andamento
- Coalizão II – Avaliou a eficácia e a segurança da azitromicina quando comparada ao tratamento padrão (que incluia hidroxicloroquina) em casos de Covid-19 mais graves que necessitaram de maior e respiratório. Em breve os resultados serão divulgados.
- Coalizão IV – Está avaliando se a anticoagulação plena com rivaroxabana traz benefícios para pacientes com Covid-19 com risco aumentado para eventos tromboembólicos. Foram incluídos 110 de um total previsto de 600 pacientes em 40 centros.
- Coalizão V – Está avaliando se a hidroxicloroquina previne o agravamento da Covid-19 em pacientes que não precisam de internação hospitalar. Foram incluídos 727 de um total previsto de 1300 pacientes em 68 centros.
- Coalizão VI – Avaliou se o tocilizumab, um inibidor da interleucina 6, é capaz de melhorar a evolução clínica de pacientes hospitalizados com Covid-19 e fatores de risco para formas graves inflamatórias da doença. Inclusão de pacientes encerrada com 129 casos em 12 centros. Os resultados deverão ser publicados em breve.
- Coalizão VII – Está avaliando o impacto a longo prazo, após alta hospitalar, incluindo qualidade de vida, de pacientes que tiveram Covid-19 e foram participantes dos demais estudos da Coalizão. Até o momento, foram incluídos 980 pacientes.
- Coalizão VIII – Avaliará se anticoagulação com rivaroxabana previne agravamento da doença com necessidade de hospitalização em pacientes não-hospitalizados com formas leves da Covid-19. Previsão de início de inclusão em setembro de 2020 (1.000 pacientes).
- Coalizão IX – Avaliará se drogas antivirais isoladas e/ou em combinação são efetivas para tratar casos de Covid-19 hospitalizados com doença moderada. Os antivirais a serem testados são atazanavir, daclatasvir e daclatasvir associado a sofosbuvir. Previsão de início em setembro de 2020.